janeiro 30, 2012

após quilómetros em andamento constante, sem uma única paragem, sentia-me completamente ofegante. não tencionava desistir nunca, encontrá-lo e guiá-lo era mais que um objectivo, era a minha vida. uma coisa eu tinha certeza, o cheiro de angústia e os sentimentos que o deitavam abaixo estavam a dezenas de quilómetros atrás de mim. consegui sentir uma brisa de felicidade. todas aquelas caras grandes que me acompanhavam no sentido oposto à minha direcção encontravam-se totalmente fora do controle e o número tendia a aumentar a cada passo que eu dava. a amargura das pessoas era tanta que elas preferiam escondê-la por detrás das suas vestes, a assumir toda a atenção que não estavam a receber nas suas miseras vidas. foi nesse instante... oh, foi nesse instante que separa o consciente do subconsciente que eu consegui avistar finalmente alguém que ia na mesma direcção que eu. lá estava ele, acompanhado do seu habitual cigarro. querem mesmo saber o que me deixou com este sorriso na cara? todo aquele fumo que lhe saia da boca estava carregado de um prazer que eu desconhecia da sua faceta, apercebi-me logo: ele estava a reencontrar-se!

janeiro 29, 2012

han? acordei...? sim, acordei! tudo o que eu conseguia ver era agora uma luz bem forte a bater-me nos olhos, como o reflexo do sol num espelho... toda aquela luz tornou-se perturbadora. deixei que se passassem uns 10 minutos, para me ambientar aquela luz que me cegava a vista. feito num trapo era o meu estado. faltava-me um sapato e... o meu casaco?! espera ai, onde raio é que eu estou? o que é que me aconteceu? amarguradamente lembrei-me do sucedido. tinha sido engolido pela fúria que ia na cabeça do pobre viciado e bem pior que isso: havia perdido-o de vista!! não conseguia pensar e muito menos fazer qualquer movimento brusco, como correr. que seria dele sem mim? quem o guiaria para a luz? estava a fazer demasiadas perguntas, a obter zero respostas e mais grave, não estava a mexer uma palha. tratei imediatamente de tentar saber quantos dias haviam passado desde o meu apagão...

janeiro 27, 2012

entranhei-me nos seus olhos castanho-avelã. consegui pela primeira vez sentir o que ele sentia. ver o que ele via. ouvir o que ele ouvia. de tantos cigarros fumados, a sua boca não passava de um cinzeiro completamente sujo! a vida passava-lhe por entre os olhos numa autêntica câmara lenta, como se o andamento do relógio tivesse reduzido para metade, fazendo com que as pessoas abrandassem o ritmo a seus olhos. não havia nada que ele não ouvisse, mas tudo lhe passava despercebido. os seus pensamentos misturavam-se com os [pensamentos] das pessoas que o cercavam, fazendo com que o pobre rapaz tivesse a capacidade de se perder por entre todas aquelas reflexões, criando na sua cabeça um espaço, que apesar de cheio, se encontrava vazio e sem qualquer fundo. naquele momento percebi o quanto os seus sentidos se estavam a tornar cada vez mais apurados, fazendo com que o viciado captasse cada movimento ao seu redor sem qualquer problema. tive a necessidade de sair de dentro dele e voltar à minha realidade. a cabeça doía-me de tal forma que o passo seguinte consistiu na perda dos meus próprios sentidos... do meu próprio eu. perdi-o de vista logo após a minha queda directa ao chão.

27-JAN-12

janeiro 26, 2012

ainda duvidas que o teu descontrolo está a desaparecer de dia para dia? vê só a prova que o passado te deixou...

o descontrolo tornava-se cada vez mais evidente a cada passo que ele dava. tudo aquilo em que se tinha tornado era agora constante. a noite havia tomado conta dele de tal forma, que o próprio já nem sabia distinguir a realidade do mundo que habitava. de dia dormia, de noite comia. eu nunca conheci o melhor dele, mas quem cresceu ao seu lado acredita que o alter-ego se apoderou do pequeno, tão pequeno rapaz. a vida é injusta, por vezes cruel. um dia temos cura e no outro dia já não. quando acordamos para a realidade, já muitos nasceram e outros tantos morreram. valerá realmente a pena viver possuído pelo nosso sub-consciente?

um passado não muito distante.
o nevoeiro havia tomado conta das ruas nessa noite, não tive outra saída se não esgueirar-me para cima de uma árvore de oito longos metros para assim poder espreitar cada passo dele na sua longa jornada. os cigarros que ele fumava a cada minuto eram os únicos elementos que nos ligavam a naquela escuridão das trevas. logo cedo me apercebi que algo naquele dia não estava a correr bem. o contacto dos lábios dele com o vicio era feito da mais angustiosa das maneiras. o pouco fumo extraído do cigarro, que me batia na cara, vinha carregado de pensamentos fortes, mas negativos. estaria ele novamente a rebaixar-se às vozes que o atormentavam? sinceramente não sei responder a isso, mas hoje mais que nunca, senti-o à beira do precipício!

26-JAN-12

janeiro 25, 2012

a cada passo que dava menos o mundo o abalava. as pedras da calçada começavam a dar rumo a um futuro próspero, apertando cada vez mais as ranhuras entre elas, impedindo assim a entrada das mais diversas e destruidoras impurezas. já não havia muito a percorrer, as palavras que lhe ressoavam ao ouvido tornavam-se cada vez mais vivas e próximas. os zumbidos e as vozes que lhe assombraram a cabeça durante séculos, já nem se distinguiam ao fundo da rua. pareceu-me calmo. bem menos perturbado. contudo ainda me era possível ver em seu olhar um pouco de tensão pós-trauma. mas nada disso o possuía no interior como o fez outrora. a sua audácia para vingar novamente encontrava-se bem persistente. eu sabia, eu tinha quase a certeza que retornar ao caminho por onde ele passou nos últimos tempos, ele não voltaria a fazer.

estou orgulhoso de ti!
25-JAN-12