abril 02, 2012

6º capítulo - o eu mesmo, parte 1

à medida que os dias se vão contorcendo e se tornam mais curtos, eu deparo-me cada vez mais que não existe uma única essência, uma única verdade ou um único sentimento que me estimulem a não querer continuar nesta imensidão escura, que dá lugar a um negro que se torna preto, e assim sucessivamente. a vida ou a falta dela apoderam-se do meu corpo sem um único piscar de olhos. a minha vulnerabilidade de tão grande que se encontra, ajuda fortemente a tudo isso. a força está vazia e a vontade de enfrentar tudo isso é mais do que nula, nem existe. encontro-me numa briga constante comigo mesmo, onde o negro se junta ao preto, manchando o branco que um dia sorriu, mas que agora não passa de mais uma miragem com falta de preenchimento num horizonte bem longe do meu alcance. a luz interior sumiu e a máscara exterior deixou-se levar por toda aquela escuridão das trevas... já nada me separa do lado negro da vida!

Hugo

março 28, 2012

5º capítulo - o eu casanova, parte 1

era a terceira naquela noite. para aquilo que eu estava habituado era pouco, mas confesso que por aquela hora já me sentida desgastado, o que também não era normal. a verdade é que o ginásio havia dado cabo de mim naquele dia, de modo que a noite não estava a ser surpreendente. vesti o casaco e bati a porta atrás de mim. ainda a consegui ouvir murmurar a sua indignação pelo meu abandono repentino. segui as escadas até me levarem ao piso térreo. a noite estava quente e eu preparado para aterrar na minha cama. entrei de imediato no bm estacionado na esquina daquela rua e segui rumo a casa. nada se passou. a noite estava realmente estranha e eu sem paciência para a perceber. entrei em casa, liguei a luz e quem lá encontrei? a joanne... e tudo aquilo para o que eu não tinha disposição naquela altura, era para ela...

luka petrov

março 25, 2012

4º capítulo - o eu confiante, parte 3

podiam ser vampiros, podiam ser lobisomens ou os já esperados coiotes que agressivamente decidiram invadir sunset valley e curiosamente numa lua de coiote. fui obrigado a afastar todos esses pensamentos que me invadiam a mente. a mãe acabava de descer as escadas que davam para os quartos, com aquela cara que me habituou a ver sempre que já passa da hora de estar na cama. nem me deu oportunidade de pestanejar. dirigi-me de imediato para a porta do lado esquerdo ao cimo das escadas. o meu quarto. contrariamente ao que pensou a mãe, eu não fui para a cama ou muito menos vesti o pijama. sentei-me no beiral da janela que separa o meu acolhedor ninho daquela rua sombria, com desespero por nostalgia onde se encontra a minha casa. mais uma vez nessa noite a curiosidade falava acima de mim. a necessidade de saber que acontecimentos misteriosos se iam passar naquela noite nos minutos seguintes estava a sufocar-me de ânsia. peguei no meu contador de mensagens e escrevi ao rodrigo. certifiquei-me de que ele ou ninguém lá em casa sairia naquela noite. só cá vivia há pouco mais de três meses. aos poucos, todas as história que contavam acerca da cidade não só começavam a fazer sentido na minha cabeça, como também se tornavam factos reais aos meus olhos. passei novamente o meu olhar pela lua arroxada de um vermelho sangue... e foi então, que no ponto máximo que a minha vista alcançava daquele ângulo, eu consegui finalmente ver algo... a densidade do nevoeiro não me dava a percepção do que era, mas a sombra estava lá!

HF

março 23, 2012

3º capítulo: o eu confiante, parte 2

mal a porta atrás de mim bateu, tratei imediatamente de enterrar a chave na respectiva fechadura. não me parecia que a noite que se estava a apoderar a cada segundo mais da cidade fosse ficar calada. aconcheguei o meu corpo dorido ao sofá. mãe e pai já dormiam. liguei ao rodrigo. no final da pequena conversa ele sorriu amavelmente. bem, eu sei que não estava lá para ver isso, mas eu tenho a certeza que ele me sorriu. pousei o contador das mensagens bem longe de mim e fixei o meu olhar no habitual filme de terror que passava às terças no canal 7. três latidos em fracção de segundos alertaram-me de que os coiotes não se encontravam mais no confortável horizonte, mas sim a dois ou três quarteirões dali. a curiosidade tomou partido de mim. afastei as cortinas que cobriam as janelas reluzentes da sala de estar. à primeira vista a única diferença que a rua me mostrava desde que eu de lá saíra e havia entrado no meu conforto, era uma camada bastante densa de nevoeiro, que se espalhava amarguradamente por aquelas ruas desertas de vida. nem sinal deles à vista, mas eu tinha a certeza que era uma questão de tempo até eles ali passarem, completamente esfomeados, à procura de carne fresca.

HF

março 22, 2012

2º capítulo: o eu mulher, parte 1

retirei de imediato os pés dos saltos altos que me acompanharam durante toda a cerimónia. digo desde já que o christian sabe exactamente como mimar uma mulher. a noite que terminou foi completamente minha e pela primeira vez na vida consegui ver que o meu esforço estava a ser devidamente recompensado. confesso que a festa pós-cerimónia acabou com parte de mim - sim, aquelas margaritas estavam demasiado fortes - por entre tanta celebridade e copos derramados consigo lembrar-me vagamente do sincero elogio que me deu a meryl e do toque suave da mão da angelina... hmm, mas digamos que o vestido levado pela julia não era de todo o mais agradável à vista, até porque o amarelo está fora de uso nos tempos em que eu vivo. o oscar de melhor actriz principal é meu. agora vou enfiar este meu corpo dormente nesta maravilhosa cama, pois as condições para o meu lado estão um pouco tempestuosas, de modo que o que eu faço de melhor no momento é confortar a minha cabeça. um beijo.

prima donna

março 21, 2012

1º capítulo: o eu confiante, parte 1

conseguimos esgueirar-nos para fora da tumba sem dar nas vistas. a noite estava bem fria. o ar marcava a chegada da estação preferida do rodrigo, o inverno, e no céu as estrelas divorciavam-se, num contraste perfeito, da lua, que se destacava naquela imensidão. a lua pintava-se de um vermelho que fazia lembrar sangue, iluminando todo o nosso caminho por entre as camas dos mortos. era a lua do coiote. agarrei-lhe bem forte pela mão, para que assim não congelássemos, e seguimos o caminho para casa dele. por escassos momentos consegui sentir o medo que jorrava nos olhos do rodrigo, quando ao fundo, onde os montes se casam com o horizonte, um grupo de coiotes uivou num misto de terror e medo. aconcheguei-o mais a mim, para que assim ele percebesse que eu o protegeria do que quer que viesse. não foi trocada uma única palavra todo o caminho. despedi-me quando chegamos ao ponto que nos levava, dando-lhe um forte abraço protector e um caloroso beijo no rosto. ele sorriu confortavelmente, e foi com essa imagem que eu segui o meu caminho pelas ruas sombrias e misteriosas daquela pequena cidade. um novo uivo de coiote fez-se ressoar por entre os ares, fazendo com que eu me arrepia-se verdadeiramente pela primeira vez naquela noite. era mortiforo o som que se fazia ouvir.

HF

março 05, 2012

emergi pelo raio de luz que se me puseram na frente, desaparecendo assim da vista do meu fiel seguidor. tinha chegado a vez de eu lhe retribuir todos os seus feitos ao longo dos últimos meses. e apesar de não ter engraçado com o apelido que tal senhor me deu, é meu dever voltar a chamá-lo para a realidade da vida, da mesma forma que ele outrora fez comigo. ignorei por segundos o apelido "viciado" e colei os meus cor de avelã na imagem que me davam. era ela. era a alice. a alice que em tempos me havia levado para as maravilhas. a alice de longos cabelos d'ouro. era ela... ali, bem na minha frente! acabei por ignorar por completo todo o assunto anterior e fixei toda a minha atenção em tal encantadora beleza. dez anos pareciam ter passado desde a última vez que a encontrei. era certo que a inocência de ambos tinha ficado enterrada bem lá atrás. peguei-lhe pela cintura e num impulso mais do que fogoso, beijei os seus lábios de vermelho rosa. à medida que a temperatura dos nossos corpos aumentava o desejo de a penetrar tornava-se arrebatador...

março 04, 2012

de facto a realidade da situação estava a pesar-me cada vez mais na consciência. sentei-me num banco de praça completamente a cair aos bocados, onde pela primeira vez me senti a desistir de tudo... a desistir de mim e inclusive do meu objectivo. senti um sabor amargo na boca, uma brisa de ar morto assombrou o mais pequeno pêlo do meu corpo. reagir não estava a fazer parte do meu dicionário... eis então que algo me prendeu a atenção. de uma luz incandescente consegui ver o viciado a emergir do solo para o nada. era certo que alguma coisa estava errada. e fiquei eu ali... sozinho... mais uma vez sem conseguir reagir ao que se me punham em frente ao nariz.