março 21, 2012

1º capítulo: o eu confiante, parte 1

conseguimos esgueirar-nos para fora da tumba sem dar nas vistas. a noite estava bem fria. o ar marcava a chegada da estação preferida do rodrigo, o inverno, e no céu as estrelas divorciavam-se, num contraste perfeito, da lua, que se destacava naquela imensidão. a lua pintava-se de um vermelho que fazia lembrar sangue, iluminando todo o nosso caminho por entre as camas dos mortos. era a lua do coiote. agarrei-lhe bem forte pela mão, para que assim não congelássemos, e seguimos o caminho para casa dele. por escassos momentos consegui sentir o medo que jorrava nos olhos do rodrigo, quando ao fundo, onde os montes se casam com o horizonte, um grupo de coiotes uivou num misto de terror e medo. aconcheguei-o mais a mim, para que assim ele percebesse que eu o protegeria do que quer que viesse. não foi trocada uma única palavra todo o caminho. despedi-me quando chegamos ao ponto que nos levava, dando-lhe um forte abraço protector e um caloroso beijo no rosto. ele sorriu confortavelmente, e foi com essa imagem que eu segui o meu caminho pelas ruas sombrias e misteriosas daquela pequena cidade. um novo uivo de coiote fez-se ressoar por entre os ares, fazendo com que eu me arrepia-se verdadeiramente pela primeira vez naquela noite. era mortiforo o som que se fazia ouvir.

HF

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